terça-feira, 16 de novembro de 2010

o grande sonho não está aqui dentro.
ele está lá fora, junto à rua [que é maior do que meu coração], lá fora junto aos homens [que andam, comem, trabalham e vivem, cada um a sua maneira, a contradição que é a vida].

nesse peito bobo, pequeno e frágil pulsa a veia do grande mundo.
nesse peito bobo morre a pequena vida.
nessa pequena vida explode o grande sonho.
[e eu, tão pequena, morro. e eu, tão pequena, cresço dez metros e explodo. tão pequena, boba e frágil sonho o grande sonho. e eu, tão frágil, boba e pequena, sei que só posso crescer - e cresço? - se construo o grande sonho.]

ó vida-futura, nós, que te criaremos, sentimos tantas dores, padecemos de múltiplos amores!
é dilacerante viver essa vida-presente, vida-presente tão preenchida de passado.
que faço eu com essa vida? essa vida que me arde e me bate a cada instante?

ó vida-futura corre, que eu já não fujo mais!
vida-futura, você que me surpreende a cada esquina, você que colore as estampas das saias, você que pinga a cada gole ..!
ó vida-futura me atropele imediatamente!

vida-futura não nos afastemos mais,
o tempo é minha matéria - o tempo presente, os homens presentes, a vida-presente.
vida-futura, estes ombros cansados anseiam pelos seus afagos!

eu, que sou uma contradição, digo, grito, xingo e morro:
ó vida-futura, nós te criaremos!

.:.

este é o tempo em que não se diz mais 'meu deus'.
é o tempo da depuração e do desamor.
é o tempo da vida-apenas, sem mistificação.

e eu sei que o amor começa tarde.
enquanto ele não vem, eu corro.

ofegante, corro ainda mais. correndo vejo o entardecer.
a luminosidade laranja presencia o novo momento - queimando meus olhos míopes o entardecer anuncia um novo tempo:

ó vida-futura, nós te criaremos.