quinta-feira, 29 de julho de 2010

e foi tão intenso que, no dia seguinte, a impressão que ela tinha era de estar com febre.


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domingo, 25 de julho de 2010

quien no lo sepa ya lo aprenderá de prisa:
la vida no para, no espera, no avisa.
tantos planes, tantos planes vueltos espuma
tu, por ejemplo, tan a tiempo
y tan inoportuna

eran más bien los días de arriar las velas
toda señal a mi alrededor decía: cautela.
cuánta estrategia incumplida, aquella noche sin luna
tu, por ejemplo, tan bienvenida
y tan inoportuna

¿quien sabe cuándo, cuándo es el momento de decir: ahora?
si todo alrededor te está gritando:
¡sin demora, sin demora!

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adelaide se sentía tan a tiempo y tan inoportuna.

sexta-feira, 23 de julho de 2010



adelaide precisava se esvaziar de tudo o que sentia para depois se encher de alguma outra coisa.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

adelaide: minha amiga jung chang disse que é importante manter a mente aberta - tão simples, e ainda assim eu demorei tanto pra descobrir.

paula: eu acho você tão bonita, adelaide. você é como uma lagarta listada. você é engraçada! você parece louca.


as duas riram e juntas foram dormir.


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adelaide pensou logo que fechou o livro:
"vou sentir saudades de você, amiga jung chang."


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terça-feira, 20 de julho de 2010

pela décima vez, ainda adormecida, acionou a função 'soneca' e pensou:
"só mais cinco minutinhos ...".

na décima primeira vez que o despertador tocou, resolveu que era hora de levantar.
abriu os olhos ainda deitada e os sentiu incrivelmente pesados e arranhando.
ao contrário do que lhe aconselhava seu falho bom senso, os coçou com muita força, enquanto procurava os chinelos com os pés.

pensou que a miopia dos olhos de dentro acidentalmente teria agravado a miopia dos olhos de fora.
precisava escovar os dentes, lavar o rosto e tomar um chá quente e forte para também despertar a cabeça.
ainda não tinha conseguido abrir totalmente os olhos, que além de pesados e arranhando, pareciam esturricados de tão secos - suas retinas deveriam estar fadigadas pela visão desse mundo todo vivo.

invertendo a ordem cotidiana, passou tateando pela porta do banheiro e foi direto para a cozinha.
ali a claridade era ainda maior e por isso permaneceu com os olhos semi-cerrados. colocou a água no fogo e foi para o banheiro, seguindo seu ritual diário.
diante do espelho decidiu se esforçar para os abrir.
'abra los ojos', disse mentalmente, lembrando de um filme que adora.
ao fazê-lo, os sentiu ardendo e os cílios grudando.

se aproximou do espelho, abriu os olhos o máximo que pôde.
eles estavam inchados e bastante vermelhos:

"ah! ... é só conjuntivite!!"

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sábado, 17 de julho de 2010

cotovelos apoiados na mesa, as mãos sustentavam a testa e os dedos se perdiam na franja de seus cabelos claros, curtos e meio oleosos.
suspirou um suspiro sonoro, levantou-se bastante assustada.
deveria arrumar tudo aquilo muito rapidamente.
não poderia deixar fazer efeito.
displicentemente abrira uma de suas caixas de pandora, de onde saíra alguma substância perigosa que a deixava graciosamente boba. e essa substância, que tinha também a propriedade de desarrumar absolutamente tudo, agiu feito vento teimoso que quando a gente deixa a janela aberta joga tudo pro ar.
sabia que tinha pouco tempo. conscientemente deveria colocar as coisas no lugar imediatamente, tirando da vista tudo aquilo que lhe fizesse lembrar de seu estado graciosamente bobo de minutos atrás.
de maneira apressada reorganizou tudo e respirou aliviada.
se despiu também às pressas e, como quem fugia, correu para o banheiro. nem se deu conta de quando abriu o chuveiro e a água quentíssima começou a cair na nuca nua e nos ombros.
era o jeito mais fácil de chorar, não conseguia identificar o que era água e o que era lágrima.
assim, nunca sabia quanto estava chorando de fato e era como se não estivesse. aí tudo ficava mais calmo e chorar parecia mais natural.
saiu do banho, se trocou e secando os cabelos com a toalha revisou mentalmente o que tinha para fazer: "responder emails, estudar, dar um gás no trabalho ... ah! tem o filme da mostra de cinema latino-americano mais tarde ...".
entrou no quarto e se surpreendeu com a ordem que imperava ali:
"estranho, parecia tudo tão bagunçado quando eu saí ...".
engoliu seco quando viu a caixa que ainda estava em cima da mesa, reviveu toda a epifania de instantes atrás em questão de segundos.
entendeu que seu método clássico de lidar com o que não cabia em si não funcionaria mais.
resolveu que não guardaria a caixa, tirou tudo o que estava na cômoda do lado direito e a deixou ali, à vista.
respirou tranqüila, apesar dos olhos marejados e do nó na garganta.
"eu vou aprender a lidar com você, sra. caixa".
aí todo mundo entendeu - ela, o quarto, a caixa, a lágrima, a cômoda - que realmente iria aprender.
é que por amor a gente faz muita coisa, inclusive aprende lidar com caixas.
não era amor à caixa, era amor à substância perigosa que lhe deixava num estado graciosamente bobo.
"cedo ou tarde essa substância haverá de retomar sua forma de gente", pensou resignada.
caminhou até a cozinha e ferveu um pouco d´água para tomar um chá.

adelaide: vai, minha tristeza, e diz-lhe que sem, assim, não pode ser. diz-lhe numa prece que regresse. diz-lhe que chega, que não há paz, não há beleza. diz-lhe que tudo aqui precisa ser mais lindo, precisa ser mais louco. diz-lhe que os abraços - apertados, colados e calados -, os beijinhos e os carinhos hão de ser milhões e sem ter fim. diz-lhe que é pra acabar com esse negócio, que é pra parar, pra deixar esse negócio, que eu não quero mais esse negócio.

tristeza: eu digo sim, adelaide, eu digo sim.

sexta-feira, 16 de julho de 2010



nessa época, eu agarrava a oportunidade de solidão, e demonstrava ostensivamente que nada queria com o mundo à minha volta, o que deve ter-me feito parecer meio arrogante.


jung chang .:. cisnes selvagens


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mentalmente disse:
"obrigada, amiga jung chang, por expressar tão perfeitamente o que estou sentindo agora e não sou capaz de dizer."


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quinta-feira, 15 de julho de 2010




finalmente reconheceu:
"ok. eu sou estranha e meio insegura."

[meio insegura ?!?!?]


"sim, estranha e meio insegura."


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recolheu todas as plumas, paetês, cheirinhos, coisinhas, perfuminhos, fru-frusinhos e guardou.

decidiu:
"chega de rei, poeta, príncipe, peter pan, cavaleiro, artista e literato!"
se despediu de todos.

suspirou e anunciou apaixonada seu novo amor:
"eu te amo, sapo caco!"


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"quer um beijinho com batom de moranguinho, sapo caco?"

[ei! mas você é mesmo estranha ...]

"eu não sou estranha. sou estranha e meio insegura"


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agora era assim: ela amava o sapo caco.

terça-feira, 13 de julho de 2010






olhava pra si e pra fora, cinza.
de dentro do guarda-roupa saltavam estampas e texturas.
mas hoje não se dava com elas, estava cinza.

pensou nos dias quentes desse inverno meio estranho.
mas hoje a chuva teimava em cair, um dia feio, estava cinza.


pensou que queria cores.
cores fortes, sóbrias e cortantes: margenta, azul petróleo, verde bandeira.
lilás, rosa bebê e azul piscina poderiam lhe causar náusea, diarréia.


sabia o que queria enxergar.
não se enganava com o colorido fácil, acessível, digerido e bobo.
precisava de outro.
foi então que pediu: 'dai-me outra cor?'


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deitava-me num monte de canas, meu chapéu de palha sombreando parte do rosto. através do chapéu, via o vasto céu turquesa. uma folha destacava-se do monte de canas acima, parecendo desproporcionalmente enorme contra o céu. entrecerrava os olhos, sentindo-me aliviada pelo frescor da vegetação.

a folha lembrava-me as folhas oscilantes de uma touceira de bambu, numa tarde de verão quente semelhante, muitos anos antes. sentado à sua sombra, a pescar, meu pai escrevera um poema triste. no mesmo gelu - padrão de cores, rimas e tipos de palavras - do dele, comecei a compor um meu. o universo parecia parado, além do leve roçagar da brisa refrescante. a vida me parecia bela naquele instante.

nessa época, eu agarrava a oportunidade de solidão, e demonstrava ostensivamente que nada queria com o mundo à minha volta, o que deve ter-me feito parecer meio arrogante.


jung chang .:. cisnes selvagens

terça-feira, 6 de julho de 2010

o raciocínio era simples:
a proximidade dela era inversamente proporcional a proximidade dele.
se ela estivesse perto, ele estaria longe.

a distância dele deixava tudo mais calmo.
mas deixava também uma sensação leve e constante de falta.
tudo ficava um pouco triste.

se ela estava perto, ele voltaria a ficar longe?
sentiu um aperto no peito de pensar nisso.

de repente sentiu muito medo.
e começou a se torturar com todas as possibilidades de proximidade entre eles.

medrosa, covarde e insegura.
e sofrendo da síndrome da constante insatisfação.


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perto ou longe?

preferia perto, bem perto.

já se tornara rotina: sentimentos incompletos, cigarros, meia dúzia de cervejas - e as coisas voltavam a se apresentar com algum sentido.

sentia muita coisa, a cabeça estava repleta de perguntas.
sabia, queria estar longe de problemas.
calma e lacônica sempre ouvia o mesmo cd: "riot on an empty street".
e daí extraíra o mais sábio [bom] conselho: stay out of trouble.

talvez fosse idealismo demais .. mas, assim, subjetivamente, não queria mais colocar as mãos em vespeiros. estava cansada e calejada.
longe de problemas, de contradições, dificuldades ... era o que queria.
mas o estar com o outro não era assim.
ao contrário, seria sempre, sempre, marcado pelos problemas, pelas contradições e pelas dificuldades.

dilema difícil de resolver.

teria, então, que escolher.
há tempos sabia, e não sabia, o que queria.

'ponho ou não ponho as mãos no vespeiro?' - se perguntava.

as picadas das vespas doeriam - ela sabia.
mas não experimentá-las [já] doia ainda mais.

pagaria pra ver?

sabia que o encontro é assim, feito gelo em copo comprido.
aparece meio de repente e te faz engasgar.

a garganta se fechava em nós, queimando.

tentaria o último - e já tãããããããão enunciado - gole?
[não convencia nem a si mesma disso.]


não.

não.




'stay out of trouble .... stay in touch ...'

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decidiu e respondeu:

'então você percebeu? era pra você.'


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antes de pegar no sono, leu:
'sua mensagem foi entregue'.



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será?

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