domingo, 31 de outubro de 2010

enfrentar o silêncio pode significar um passo importante rumo à construção da intimidade.
ou então pode ser [,também,] expressão inicial de estranhamento.

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intimidade é costurar com o outro um ambiente favorável para que aquilo que há de submerso venha à tona, e para o que há de desconhecido seja inaugurado.

a intimidade é, sobretudo, uma decisão consciente.
primeiro é preciso ir ao outro. depois, decidir trabalhar com ele, conjuntamente, na costura do ambiente favorável onde a intimidade possa se manifestar. por fim, é preciso ter coragem de permitir que o seu submerso venha à tona, que o seu desconhecido seja inaugurado, e que ambos sejam compartilhados com o outro.
tudo isso só é possível se for recíproco entre um e outro.
e a reciprocidade não é determinada pela forma que cada um encontra de expressar o desejo [e o prazer] pelo íntimo, mas sim pela direção que se dá à costura do íntimo.
a intimidade se faz a partir da conjugação simultânea de forças centrípetas.



o estranhamento é a incapacidade de nos reconhecermos naquilo que nós exteriorizamos, ou naquilo que os outros exteriorizaram.



a intimidade não é a antagonista do estranhamento, é a sua superação.


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não ouço nada agora que reflito sobre isso, só o latido do cachorro, que cessou antes mesmo que pudesse completar essas linhas.

domingo, 17 de outubro de 2010

o cigarro na mão esquerda representava o punhal, a cerveja na direita, o escudo.
foi então que entendeu: "você muda a sua vida, ou a sua vida vai te mudar".

dentre todos os sonhos grandes que tinha, há algum tempo, escolhera o grande sonho.

"ou você muda a sua vida, ou a sua vida vai te mudar" - sussurrou em voz alta como quem alertava a si mesma.
assim que fechou os olhos, decidiu: rasgou-se o peito com o próprio punhal. o vermelho que escorria dali chegou nos dedos.
enquanto o peito doia, as mãos se fortaleciam.
o grande sonho só se sonha de olhos bem abertos.
sua visão não poderia ser mais tão míope. era preciso, pois, corrigir a miopia da visão de fora e de dentro.
ela estava morrendo em todos os aspectos da vida.
tão morta e nunca antes tão viva.
[e tinha tanto ainda o que viver! ah, o grande sonho ...]

sorriu, era o seu compromisso de vida.
seu o coração aumentava de tamanho, cresceu dez metros e explodiu.
nos ombros muito peso. mas o que levava nas costas era a razão da maior das alegrias:
"ó vida futura!, nós te criaremos"

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www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/09/262416.shtml
www.memoriaviva.com.br/drummond/poema020.htm

quarta-feira, 6 de outubro de 2010



a tragédia pessoal de adelaide surgiu no momento em que aquilo que ela supunha ser essencial se mostrou contigente.

a tragédia pessoal de adelaide permanece.
a tragédia pessoal de adelaide consiste no fato de que as emoções que ela viveu nos últimos 365 dias são incontestávelmente contigentes.

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sartre e de beauvoir, parabéns pelo pacto.
eu preciso ser mais humana.
minha tarefa permanente é essa: a de humanizar a vida.

humanização da vida é revolução permanente.
revolução permanente é a mais profunda e irreversível humanização da vida.


a perspectiva da minha subjetividade é um devir-ser permanentista.
objetivamente permanentista.


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drummond, me ajuda a entender aquilo que sozinha eu não entendo.

vamos de mãos dadas.

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domingo, 3 de outubro de 2010

você não tem nome.
você é só um pronome de tratamento que uso para designar você-alguém-que-eu-não-conheço.

só posso reconher isso porque, finalmente, eu admito que perdi ou que nunca tive.

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quando não se pensa neles, eles não existem mais.
o corpo, mesmo ferido, sempre sobrevive.




[e ainda que correspondido a gente nunca é inteiro]
coisas de natureza diversa lotavam a cabeça,
revezando entre elas, em um vai-e-vem desvairado, a atenção prioritária por três ou quatro segundos.

em seis minutos conseguia pensar no mundo que imperativamente exigia que ela aumentasse de tamanho.
e ela estava aumentando.

sem saber como falar, tinha muito pra dizer.

era assim mesmo incompleta e permanentemente muito menor do que gostaria.

ela precisa aumentar muito o seu tamanho.
acho que ela está aumentando de tamanho.

ela é tão pequena e quer ser tão grande.

ela é tão cheia e tão vazia.
ela está se esvaziando de tudo que sente, para depois se encher de muitas outras coisas.

ela está se esvaziando de tudo e se sentindo tão mais leve.

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e pra definir precisamente: estava magra, leve e calma.

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[aumentar de tamanho doi. aumentar de tamanho é se ver no outro. aumentar de tamanho é se dar, em partes, para o outro. aumentar de tamanho é dividir com o outro. aumentar de tamanho é ouvir o outro. aumentar de tamanho é conhecer o outro à medida em que se conhece a si mesmo. aumentar de tamanho é caminhar com o outro e caminhar sozinho. aumentar de tamanho é tarefa solitária, que pode ser dividida em alguns momentos com muitos outros.
aumentar de tamanho é não querer estar sempre no mesmo lugar. aumentar de tamanho é ser compreensivo consigo, com o outro e com o mundo todo vivo.]