segunda-feira, 26 de abril de 2010

novidade, bermuda larga
pijama confortável, causa justa.

terça-feira, 20 de abril de 2010

se sentia profundamente exposta. não entendia exatamente porquê, mas era difícil ter a postura resoluta que reivindicava.

doía.

sua impressão era de estar envolvida por cordas de mil metros. quanto mais tentava se desvencilhar, mais envolta ficava.
aquilo era um pântano. sentia-se sem ar.

decepcionada, fechou os olhos. desejou estar em outro lugar, distante dali.
pensou que a solução poderia chegar como a maré, de acordo com o movimento da lua.

nos joelhos percebeu a água subindo. repentinamente as cordas se soltaram.
era prova do cansaço, não de força.

abriu os olhos e voou pra longe.
depois disso o alívio viria, com a rapidez de um antídoto intravenal.


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sexta-feira, 16 de abril de 2010

ainda de pijamas, fumava encostada na janela.
sentia uma dor aguda, como se algo cortante lhe penetrasse o cóccix, perfurando o caminho da coluna e saísse rente à nuca. era o tropismo do ego, egotropismo.

.:.

ah, se é pra cortar que corte.
que eu deixo o Eu crescer. deixo a dor doer em mim.

imediatamente começo assobiar, ao som de alguma música que me deixe mais leve.


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quarta-feira, 14 de abril de 2010

chegou em casa cansada e com o tornozelo esquerdo doendo um pouco.
pendurou as chaves, indisciplinadamente deixou a mochila no chão.
no escuro, abriu a geladeira. pegou a última cerveja, continuaria o ritual.
tomou um gole e desejou o maço de cigarro que não comprou no caminho de casa. a cerveja desceria à seco, paciência.

a cabeça derramava idéias resignadas.
sentia as maiores saudades dos amigos que estavam longe. como amava todos eles! como os queria por perto!..

nesse preciso momento se sentia só.

sobre as voltas e os tropeços dos últimos tempos finalmente entendera e, agora, entendera até o final:
seria assim, precisamente assim, como todos esses limites.

o óbvio, o imediatamente deduzível, lhe pareceu a maior das novidades.
e como doeu se dar conta disso. seria sempre assim, precisamente assim.
mas no fundo ela sabia. só não admitia por ele[s], não por ela mesma - era mais fácil.

os últimos goles seriam úmidos, nas mãos e nos olhos.
a umidez escorria no rosto, estava chorando.
seria a derradeira despedida? ou admitir era realmente dolorido?
(nesse caso, mais dolorido que o tornozelo esquerdo.)

isso ela não saberia dizer.
mas o óbvio teimava em lhe saltar aos olhos: era mesmo limitado.
e ela, à revelia, precisava definir um lugar pra desejar. sentia saudades de casa, não sabia mais o que chamar de lar.

queria estar longe de confusão.
sabia que isso significaria estar longe também do cachecol vermelho que lhe aquecera os olhos.
fechou com força esses mesmos olhos castanhos e sentiu que talvez fosse mesmo uma despedida. e como isso doia!..
talvez fosse melhor assumir: 'o que nos cabe é a saudade!' (como doia!).
caminharia em frente pra sentir saudade.

respirou fundo e cantou em voz alta, desejando tanto que [ele] pudesse ouvir:
'i can forget about myself trying to be everybody else
i feel allright that we can go away
and please my day
i let you stay with me if you surrender'

agora sim iria dormir.
e essa noite, sabia, não sonharia mais.


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[i'll take a ride in melodies and bees and birds ...
will hear my words?]

terça-feira, 13 de abril de 2010

depois de horas lutando contra o despertador, acordou.
sentou-se na cama, desceu os pés ao chão. sentia o corpo renovado, mas a cabeça não descansou.

abriu a porta pensando no café que coaria logo depois de escovar os dentes.
foi então que se deu conta: sonhara a noite inteira.
com a escova nas mãos e a boca cheia de espuma voltou pro quarto, respirou fundo.
o sonho deixou ali um cheiro forte e já conhecido.

lembraria disso o dia inteiro.

domingo, 11 de abril de 2010

digam por mim!
ainda há muito o que dizer:


i lose some sales
and my boss won't be happy
but i can't stop listening to the sound
of two soft voices blended in perfection
from the reels of this record that i found

every day there's a boy in the mirror
asking me
what are you doing here
finding more that previous motifs
growing increasingly unclear

i travelled far and i burned all the bridges
i belived as sooned as i hit land
all the other
options held before me
wither in the light of my plan

so i lose some sales
and my boss won't be happy
but there's only one thing on my mind
searching boxes underneath the counter
on a chance that on a tape i'd find

a song for
someone who needs somewhere
to long for

homesick
cause i no longer know
where home is


. homesick . kings of convenience .
estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
e não tivesse mais irmandade com as coisas
senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
a fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
de dentro da minha cabeça,
e uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
estou hoje dividido entre a lealdade que devo
à Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
e à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

.

sempre uma coisa defronte da outra,
sempre uma coisa tão inútil como a outra,
sempre o impossível tão estúpido como o real,
sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

.

a realidade plausível cai de repente em cima de mim.

.

tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
meu coração é um balde despejado.

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à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

.:.

quando não sei como dizer,
deixo que os outros falem por mim.
e pra derramar o que não cabe passeio pela 'tabacaria' de álvaro de campos.


às vezes não sei como dizer,
então deixo que os outros falem por mim.


.:.


meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...

no movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.

há saudades nas pernas e nos braços.
há saudades no cérebro por fora.
há grandes raivas feitas de cansaços.

mas — esta é boa! — era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação? ...




[ah, um soneto . álvaro de campos]


.:.


que alívio.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

a garganta pesava toneladas - arranhada pela gripe, que teimava em não se realizar de vez, e por todos os versos não ditos.
as mãos, molhadas pela garoa, cheiravam a tabaco.


fora nocauteada.
os próximos dias seriam de resolução:
diria tudo, numa forma epistolar.


.:.

terça-feira, 6 de abril de 2010

calças de pijama, moleton e meias brancas.
o calor da caneca esquentava a mão direita - estava de pé, encostada na porta do quarto.
observava o lugar, agora tudo estava em ordem.
arrumar a cama foi o que lhe exigiu mais resolução e persistência. num dia frio como esse, com a coriza tão insistente e a garganta arranhando, sua vontade mais sincera era voltar pros cobertores tão preguiçosos quanto ela.

pensou que arrumar a desordem de si levaria mais tempo, era tarefa contínua.
sempre é preciso construir um sentido pro que se passa dentro. nisso ela tinha prática, suas mãos eram habilidosas.
se viu como artesã, começou o trabalho.

por instantes se preocupou: e se esse processo de organização e feitura lhe emocionassem?
respirou aliviada e se lembrou da música:

'tears dry on their own'.



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domingo, 4 de abril de 2010

hoje iria dormir engasgada.
antes de escrever a respeito precisaria organizar essa torrente de idéias pontiagudas e cortantes.
ela sabia (e sobre isso tinha uma postura resignada):

as palavras precisam de tempo.


.:.



os olhos pesavam, mais de preguiça do que propriamente de cansaço.
de todo modo, os últimos dias tinham sido cheios.
a casa estava quieta e ela queria dormir.

havia muito o que organizar.
as roupas recém lavadas estavam todas em cima da mesa, cheirosas e amarrotadas.
os jornais da semana no chão, logo ao lado da cadeira. a cama não era esticada há alguns dias.

e por dentro a mesma coisa.
'preciso colocar em ordem' - disse como quem se aconselhava.

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