quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ela se reconhecia em si mesma e isso era incrível.
a sensação que daí derivava era de alívio.

não sofria mais de febre terçã, aprendera a digerir os seus paquidermes, os seus e os dos outros.
aprendera a entender suas próprias contradições, a olhar para elas de maneira compreensiva.
e entendera que, a despeito dessas contradições, é preciso ter uma postura resoluta com a subjetividade alheia, e com a sua própria subjetividade sobretudo.
a despeito das contradições, dos paquidermes, das vontades mais firmes, dos medos mais paralizadores e das motivações mais sinceras é preciso partir, andar.

se olhava no espelho e se permitia perder-se.
perder-se nos meandros de si, naquilo que possuia de mais íntimo e particular.
a sensação de quase-plenitude que sentia ao se descobrir era azul.
estava feliz. e pela primeira vez em tempos o gosto do ferro que lhe feriu o peito abandora a boca.

o gosto agora era doce.
doce gosto de estar sozinha, diante de si, tão disposta a entender o universo e preenchê-lo de siginificado.

lembrava do cheiro de manjericão, sorriu e bebeu um copo d´água.


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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010



não sofria mais de febre terçã.
aprendera a digerir paquidermes, a dissolver venenos e envolvimentos até a milésima parte.

depois de tanto peso, se sentia leve.
depois de tanto tempo, se sentia breve.

aprendera a ver cores no cenário preto e branco.
aprendera ouvir música no silêncio da casa vazia.

.:.
ela estava sendo assim como queria ser,
magra, leve e calma.

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criava borboletas do estômago.
as asas que viviam dentro, nas entranhas, ganharam vida externa, foram parar na coluna.
foi então que ela bateu asas e voou.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

"sempre uma coisa defronte da outra,
sempre uma coisa tão inútil como a outra,
sempre o impossível tão estúpido como o real,
sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra."


. tabacaria .:. fernando pessoa .


os cigarros ajudavam na libertação do pensamento,
que se desenrolavam como um novelo.

minha história continua, sou sublime.
e quanto a tudo isso, seja o que for! se puder inspirar, que inspire!
que meu coração é como um cão perdido na mudança.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010




sentia-se descalça e sem pele diante de uma platéia muda e indiferente.
espremeu as entranhas, tirou dali a resolução: de óculos escuros falou de amor à vida.


.:.

cuidado, é só de carne.
não tem cimento dentro do meu coração.



[que fragilidade!]



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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010



entre a ânsia
e a distância
onde me ocultar?

entre o medo
e o multiapego
onde me atirar?

entre a querência
e a clarausência
onde me morrer?

entre a razão
e tal paixão
onde me cumprir?


.: onde . zila mamede :.



.:.

é preciso encontrar a justa da medida das coisas.


[e eu continuo a escrever a minha história,
só pra provar que sou sublime.]





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