quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

etnologia da solidão (II)


regressei à cidade, aqui eu posso ser outra coisa.

o sentimento de não-pertencimento se funde com uma identificação irreversível.
não sou daqui, mas é como se eu fosse.

neste dia eu e a cidade somos a mesma coisa - um dia chuvoso.
depois que as trovoadas deram a impressão de que o céu caia, as poças d´água no chão, levemente chicoteadas pela garoa que ainda precipita, me sussurram uma tranqüilidade leve.
observo nossas contradições [as minhas e as da cidade] enquanto volto para casa com os tênis sujos.

hoje agarro essa oportunidade de solidão e demonstro ostensivamente que sou parte do mundo ao meu redor.
regressei à cidade, aqui posso ser outra coisa.
e agora eu sou cinza e úmida.


.:.

[a foto é de adelle araújo - www.flickr.com/photos/tigermilk]

Nenhum comentário:

Postar um comentário